quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

QUEDA

T.J.

E eu que sou o rei de toda esta incoerência,
Eu próprio turbilhão, anseio por fixá-la
E giro até partir... Mas tudo me resvala
Em bruma e sonolência

Se acaso em minhas mãos fica um pedaço de ouro,
volve-se logo falso... ao longe o arremesso...
Eu morro de desdém em frente dum tesouro,
Morro à mingua do excesso.

Alteio-me na côr à força de quebranto,
Estendo os braços de alma - e nela me espanto venço!...
Peneiro-me na sombra - em nada me condenso...
Agonias de luz eu vibro ainda entanto

Não me pude vencer, mas posso-me esmagar,
- Vencer às vezes é o mesmo que tombar -
E como inda sou luz, um grande retrocesso,
em raivas ideais ascendo até ao fim:
Olho do alto o gelo, ao gelo me arremesso

    .............

Tombei...
 
  E fico só esmagado sobre mim!...


Mário de Sá Carneiro (Dispersão)

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