sexta-feira, 30 de julho de 2010

SENTIMENTAL

Ponho-me a escrever teu nome

com letras de macarrão.

No prato a sopa esfria, cheia de escamas

e debruçados na mesa todos completam

esse romantico trabalho.


Desgraçadamente falta uma letra,

uma letra somente

para acabar o teu nome!

-Está sonhando? Olha que a sopa esfria!

Eu estava sonhando...

E há em todas as consciências um cartaz amarelo!

"Neste país é proíbido sonhar."


Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 29 de julho de 2010

LONGE

Acendo um cigarro
e ponho-me a olhar
as casas que se elevam pela encosta...

Longe,
o sol morre numa lagoa de sangue...

Entristeço-me.

Meus sonhos, tornaram-se em nada,
minhas ambições nunca passaram de planos,
meus enlevos de amor, nunca passaram de ânsias

quarta-feira, 28 de julho de 2010

AIR VIF

J'ai regardé devant moi
dans la foule je t'ai vue
parmi les blés je t'ai vue
sous un arbre je t'ai vue

Au bout de tous mes voyages
au fond de tous mes tourments
au tournant de tous les rires
sortant de l'eau et du feu

L'été l'hiver je t'ai vue
dans ma maison je t'ai vue
dans mes rêves je t'ai vue

Je ne te quitterai plus...

Paul Éluard (Le phénix)

terça-feira, 27 de julho de 2010

BALANÇO

Pedes-me um tempo
para balanço de vida.
Pedes-me um sonho
para fazer de chão.
Pedes-me o mundo
mas ele não cabe numa mão fechada.

Agarras a minha mão dizendo
que com a tua mão me salvas...

De quê?
de viver o perigo.
De quê?
de rasgar o peito?
Com quê?
De morrer?
Mas de que paixão?

De quê?
Se o que mata mais é não vêr
o que a noite esconde
e não ter
nem sentir o vento ardente
a soprar o coração.

Teresa

SAUDADE

Saudade é solidão acompanhada
é quando o amor ainda não foi embora
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não vêr o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
Aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos
não ter por quem sentir saudades
passar pela vida e não viver.

O maior sofrimento é nunca ter sofrido!!!

Pablo Neruda

sábado, 24 de julho de 2010

LLÉNATE DE MÍ

Llénate de mí.
Ansíame, agótame, viérteme, sacrificame.
Pídeme. Recógeme, contiéneme, ocúltame.
Quiero ser de alguien, quiero ser tuyo, es tu hora.
Soy el que passó saltando sobre las cosas,
el fugante, el doliente.

Pero sinto tu hora,
la hora de que mi vida gotee sobre tu alma,
la hora de las ternuras que no derramé nunca,
la hora de los silencios que no tienen palabras,
la hora alba de sangre que me nutrió de angustias,
tu hora, medianoche que me fue solitaria.

Libertame de mi. Quiero salir de mi alma.
Yo soy esto que gime, esto que arde, esto que sufre.
Yo soiy esto que ataca, esto que aúla, esto que canta.
No, no quiero ser esto.
Ayúdame a romper estas puertas inmensas.
Com tus ombros de seda desentierra estas anclas.
Así, crucificaron mí dolor una tarde.
Libertame de mí. Quiero salir de mi alma.

Quiero no tener limites y alarme hacia aquel astro.
Mi corazón no debe callar hoy o mañana.
Debe participar de lo que toca,
Debe ser de matales, de raíces, de alas.
No puedo ser de piedra que se alza y que no vuelve,
No puedo ser la sombra que se deshace y pasa.

No, no puede ser, no puede ser, no puede ser.
Entonces gritaria lloraria, gemiria.
No puede ser, no puede ser.
Quien iba a romper esta vibración de mis alas?
Quien iba a extreminarme? Qué designio, qué palabra?
No puede ser, no puede ser, no puede ser.
Libertame de mí. Quiero salir de mi alma

Porque tu eres mi ruta. Te forjé en lucha viva.
De mi pelea oscura conta mí mismo, fuíste.
Tienes de mí ese sello de avidez no saciada.
Desde que yo los miro tus ojos son más tristes.
Vamos juntos. Rompamos este camino juntos.
Será la ruta tuya. Pasa. Déjame irme.
Ansíame, agótame, viérteme, sacrificame.
Haz tambalear los cercos de mis ultimos limites.

Y que yo pueda, al fin, correr en fuga loca,
inundando las tierras como un rio terrible,
desatando estos nudos, ah Dios mio, estos nudos
destrozando,
quemando,
arrasando
como una lava loca, lo que existe,
correr fuera de mí mismo, perdidamente,
libre de mí, furiosamente libre.

Irme
Dios mio
Irme!

Pablo Neruda

sexta-feira, 23 de julho de 2010

SANGRE Y FUEGO

No te quiero sinó porque te quiero
y de quererte a no quererte llego
y de esperarte cuando no te espero
pasa mi corazón del frio al fuego.

Te quiero sólo porque a ti te quiero,
te odio sin fin, y odiándote te ruego,
y la medida de mi amor viagero
es no verte y amarte como un ciego.

Tal vez consumirá la luz de enero,
su rayo cruel, mi corazón entero,
robándome la llave del sosiego.

En esta historia sólo yo me muero
y moriré de amor porque te quiero,
porque te quiero, amor, a sangre y fuego.

Pablo Neruda (Cien Sonetos de Amor)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

SONETO -3-

Aspero amor, violeta coronada de espinas,
matorral entre tantas pasiones erizado,
lanza de los dolores, corola de la cólera,
por qué caminos y como te dirigiste a mi alma?

Por qué precipitaste tu fuego doloroso,
de pronto, entre las hojas frias de mi camino?
Quién te enseñó los pasos que hasta mi te llevaron?
Qué flor, qué piedra, qué humo mostraron mi morada?

Lo cierto es que tembló la noche pavorosa,
el alba llenó todas las copas con su vino
y el sol estableció su presencia celeste,

mientras que el cruel me cercaba sin tregua
hasta que lacerandome con espadas y espinas
abrió en mi corazón un camino quemante.


Pablo Neruda

quarta-feira, 21 de julho de 2010

LE MENHIR

Gris de pierre
qui pousse.

Forme grise, sans
yeux, toi, regard de pierre, avec lequel
la terre a fait saillie vers nous, humaine,
sur l'obscur, le clair, de ces chemins de lande,
le soir, devant
toi, gouffre du ciel.

De l'adultérin, charroyé jusqu'ici, sombrait
par-dessus le dos du coeur. Moulin-
de-mer moulait.

Aile-claire, tu étais suspendue le matin,
entre genêt et pierre,
petite phalène.

Noires, couleur
de phylactères, ansi étiez-vous,
cosses
partageant les prières.

Paul Celan (La Rose de Personne)

terça-feira, 20 de julho de 2010

16.

Anda um ai na minha vida
Que me lembra a cada passo
A distância que separa
O que eu digo do que eu faço.

Quem mo deu,
-Partiu!...
Deixou-me na agrura
Interminável e fria
De ter de o guardar
Como único recurso
De poder viver ainda...

Anda um ai na minha vida
Como lágrima que passa,
Que passa,- mas, que finda

Dizê-lo? - nada lucrava.
Guardá-lo?, - morro a senti-lo.

Anda um ai na minha vida
Que me lembra a cada passo
A distância que separa
O que digo do que faço.

António Botto (Dandism0)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

IV


A droite je regarde dans les plus beaux yeux
A gauche entre les ailes aveugles de la peur
A droite à jour avec moi-même
A gauche sans raison aux sources de la vie.

J'écoute tous les mots que j'ai su inspirer
Et qui ne sont plus à personne
Je partage l'amour qui ne me connait pas
Et j'oublie le besoin d'aimer.

Mais je tourne la tête pour reprendre corps
Pour nourrir le souci mortel d'être vivant
Le honte sur un fond de grimaces natales.

Paul Éluard (L'amour la poesie)

sábado, 17 de julho de 2010

AU PREMIER MOT LIMPIDE

Au premier mot limpide au premier rire de ta chair
La route épaisse disparait
Tout recommence

La fleur timide la fleur sans air du ciel nocturne
Des mains voilées de maladresse
Des mais d'enfant

Des yeux levés vers ton visage et c'est le jour sur terre
La première jeunesse close
Le seul plaisir

Foyer de terre foyer d'odeurs et de rosée
Sans âge sans saisons sans liens

L'oublie sans ombre.

Paul Éluard

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sim, sei bem
que nunca serei ninguém

Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.

Sei, enfim,
que nunca saberei de mim.

Sim, mas agora,
este luar, estes ramos,
esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
no que nunca poderei ser.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 14 de julho de 2010

THE STORY

All of these lines across my face
Tell you the story of who I am
So many stories of where I've been
And how I got to where I am

But these stories don't mean anything
When you've got no one to tell them to
It's true, I was made for you

I climbed across the mountaintops
Travel across the ocean blue
I cross over lines and I broke all the rules
And baby I broke them all for you

Oh because even when flat broke
It's hiding the words that don't come out
All of the friends who think that I'm blessed
They don't know I'm in this mess

No they don't know who I really am
And they don't know what I've been through
Like you do, and I was made for you

terça-feira, 13 de julho de 2010

CORAGEM PRECISA-SE!!!

Coragem precisa-se...

Para viver
e curar as feridas.
Para lambê-las
e continuar a existir.

Coragem precisa-se...

Para comprar passagem
e seguir viagem,
Continuando a sorrir.

Coragem precisa-se...

Para amar.
Para não chorar.
Para sofrer
e mesmo assim sobreviver.

Coragem precisa-se...

Para lutar
Querendo ganhar
Mesmo sabendo
Que o mais certo é perder.

Coragem precisa-se...

Para construir.
Para presistir.
Para conquistar.


Coragem precisa-se...!

Preciso, sim!!!

Para parar.
Para pensar.
Para aceitar,
Que não tenho coragem para ser feliz.


Teresa.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

JE NE SUIS PAS SEUL

Chargée
De fruits légers aux lèvres
Parée
De mille fleurs variées
Glorieuse
Dans les bras du soleil
Heureuse
D'un oiseau familier
Ravi
D'une goutte de pluie
Plus belle
Que le ciel du matin
Fidèle

Je parle d'un jardin
Je rêve
Mais j'aime justement

Paul Éluard (Médieuses)

sábado, 10 de julho de 2010

Tudo o que faço ou medito
.Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica,
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lucida e rica,
e eu sou um mar de sargaço.


Fernando Pessoa

MÉDIEUSES

41.

Oú est-tu me vois-tu m'entends-tu
Je suis la créature de derrière le rideau
De derrière le premier rideau venu
Maîtresse des verdures malgré tout
Et des plantes de rien
Maîtresse de l'eau maîtresse de l'air
Je domine ma solitude
Oú est-tu
A force de rêver de moi le long des murs
Tu me vois tu m'entends
Et tu voudrais changer mon coeur
M'arracher au sein de mes yeux

Paul Éluard (Médieuses)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

GIORGIO DE CHIRICO

Un mur dénonce un autre mur
Et l'ombre me defend de mon ombre peureuse.
Ô tour de mon amour autour de mon amour,
Tous les murs filaient blanc autour de mon silence.

Toi, que défendais-tu? Ciel insensible et pur
Tremblant tu m'abritais. La lumière en relief
Sur le ciel qui n'est plus le miroir du soleil,
Les étoiles de jour parmi les feuilles verts,

Le souvenir de ceux qui parlaient sans savoir,
Maîtres de ma faiblesse et je suis à leur place
Avec des yeux d'amour et des mains trop fidèles
Pour dépeupler un monde dont je suis absent.

Paul Éluard (Mourir de ne pas mourir)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

LES LIMITES DU MALHEUR

Mes yeux soudain horriblement
Ne voient pas plus loin que moi
Je fais des gestes dans le vide
Je suis comme un aveugle-né
De son unique nuit témoin

La vie soudain horriblement
N'est plus à la mesure du temps
Mon désert contredit l'espace
Désert pourri désert livide
De ma morte que j'envie

J'ai dans mon corps vivant les ruines de l'amour
Ma morte dans sa robe au col taché de sang.

Paul Éluard (Le temps déborde)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Roubo do hoje a força
Fazendo nascer o amanhã.
Da janela, acompanho com o olhar
As nuvens do céu.
De novo a sombra sinistra
Tolda tristemente meus sonhos.

Tua imagem me acompanha
Por todos os lugares por onde ando.
E em todos os momentos
É a tua presença que espanta
As brumas do desconhecido.


Rabindranath Tagore.

domingo, 4 de julho de 2010

O LIVRO DO SAPATEIRO

39.

Quando, ao cair da noite,
zumbe lá fora algo que não conheço,
será talvez o roçagar das nuvens
ou o ar agitado por um aceno
que me chama para longe deste banco.

E de repente choro
tentando não molhar a paz evanescente
que as minhas mãos seguram incompleta
e que um dia, perfeita, falará
ela própria comigo, meu destino.


PEDRO TAMEN.

sábado, 3 de julho de 2010

O LIVRO DO SAPATEIRO

32.s.


Um longo casaco de veludo azul
cobrirá um dia a madrugada que fabrico
dia por dia, mastigando os minutos
nos gestos destas mãos.

E ficará perfeita a vida que sufoco
nesta cave insalubre,
na penumbra habitada.



PEDRO TAMEN.

O LIVRO DO SAPATEIRO

40.

Que faço eu senão amar
o milagre sem paga
a lírica explosão
de um rio que brota neste espaço
de um algo agora acrescentado
ao mudo mundo em que nasci?

Que faço eu que faço
senão olhar o que tenho em frente
e deixar que as lágrimas caiam
dadivosas?

PEDRO TAMEN.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O LIVRO DO SAPATEIRO

26.


Suspendo a mão entre o A e o B,
entre a minha vida e a vida que andará
dentro da minha vida.
E o mundo refloresce
com memórias de rios e montanhas
inundando estes mares de sal e carne
onde me afogo
para respirar


PEDRO TAMEN

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O LIVRO DO SAPATEIRO

23.

E ao fim do meu dia
a matéria de que se faz a minha vida
de novo abandonada
de novo de novo abandonada
pergunta-me silenciosa
se ao apagar da luz
a vida terá principio


PEDRO TAMEN.