quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A DANÇA -Pablo NERUDA

T.J.
Não te amo como se fosse a rosa de sal, topázio
ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma:
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
Te amo assim directamente  sem  problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar  de outra maneira,
senão assim deste modo que não sou nem és,
tão pertro que tua mão sobre o meu peito é minha,
tão perto que se fecham  teus olhos com meu sonho.
Antes de amar-te, amor, nada era meu.
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava
E conheci salões cinzentos,
túneis habitados pela lua,
Hangares crueis que se dependiam
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
caído, abandonado, decaído,
Tudo era inalianavelmente alheio,
Tudo era de outros e de ninguem,
Até qua a tua beleza e tua pobreza
 de dádivas encheram o outono.

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