quinta-feira, 29 de abril de 2010

INÚTIL

Chega a noite!
Caminhante longa e vagarosa
que se arrasta e me vai arrastando com ela.
Com a noite chega o medo.

Perco-me em pensamentos nesse imenso deserto
que são as horas escuras.

Vou esperando agoniada o Sol
almejando que ao chegar a nova noite
não volte a dizer:
Nada fiz,nada dei,nada fui, nada me foi pedido...


Teresa .

quarta-feira, 28 de abril de 2010

DES NUAGES DANS LES MAINS

Ce désespoir confus
Source impalpable nuit de pluie
Loin des feuilles naissantes
Loin des larmes salubres
Ce dédain de l'orient
Ce paradis livide
Cette marche en arrière
Incrédule exténuée
Vers quelques souvenirs

Le remède miracle accord cadeau confiance.

Paul Éluard (Les mains libres)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Pusemos tanto azul nessa distância
ancorada em incerta claridade
e ficámos nas paredes do vento
a escorrer para tudo o que ele invade.

Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam folhas nas arvores dos dedos
e ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos na carne dum segredo

Natália Correia

domingo, 25 de abril de 2010

O APAIXONADO

Luas, marfins, instrumentos e rosas,
Traço de Dúrer. lampiões austeros,
Nove algarismos e o cambiante zero.

Devo fingir que existem coisas.
Fingir que no passado aconteceram
Persépolis e Roma e que uma areia
subtil mediu a sorte dessa ameia
Que os séculos de ferro desfizeram.

Devo fingir os arcos e a pira
Da epopeia e os pesados mares
Que corroem da terra os vãos pilares.

Devo fingir que há outros. É mentira.
Só tu existes. Minha desventura,
minha ventura, inesgotável, pura.

J.Luis Borges.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

DEVE CHAMAR-SE TRISTEZA

Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa
Saudade que não deseja.
Sim tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe está uma estrela
E ao perto está não a ter.

Seja o que fôr é o que tenho
Tudo mais é tudo só
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó


Fernando Pessoa.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

JE TE VEUX

J'ai compris ta détresse
Cher amoureux
Et je cede à tes voeux
Fais de moi ta maîtresse
Loin de nous la sagesse
Plus de tristesse
J'aspire à l'instant précieux
Ou nous serons heureux
Je Te Veux.

Je n'ai pas de regrets
Et je n'ai qu'une envie
Prés de toi lá tout près
Vivre toute ma vie
Que mon corps soi le tien
Que ta lèvre soi la mienne
Que ton coeur soi le mien
Et que toute ma chair soit tienne.

Oui je vois dans tes yeux
La divine promesse
Que ton coeur amourex
Vien chercher ma caresse
Enlacés pour toujours
Brûlant des mèmes flames
Dans un rêve d'amour
Nous échangerons nos deux ámes


Erik Satie.

BEAU SOIR

Lorsque au soleil couchant les rivières sont roses

Et qu'un tiede frisson court sur les champs de blé,
Un conseil d'être heureux semble sortir des choses
et monter vers le coeur troublé.


Un conseil de goûter le charme d'être au monde
Cependant qu'on est jeune et que le soir est beau,
Car nous nous en allons, comme s'en va cette onde:

Elle à la mer, nous au tombeau


Paul Bourget.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O POÇO

Aqui eu te amo.
Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.
Fosforece a lua sobre as aguas errantes.
Andam dias iguais a perseguir-me.
Descinge-se a nevoa em dançantes figuras.
Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.
Às vezes uma vela, altas altas, estrelas.
Ou a cruz negra de um barco
Só.
Às vezes amanheço e minha alma está humida.
Soa, ressoa o mar distante.
Isto é um porto.
Aqui eu te amo.
Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.
Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.
Às vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,
que correm pelo mar rumo a onde não chegam.
Já me creio esquecido como estas velhas âncoras.
São mais tristes os portos ao atracar da tarde.
Cansa-se minha vida inutilmente faminta...
Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.
Meu tédio mede forças com os lentos crepusculos.
Mas a noite enche e começa a cantar-me.
A lua faz girar sua arruela de sonho.
Olham-me com teus olhos as estrelas maiores .
E como eu te amo, os pinheiros no vento
Querem cantar o teu nome, com as suas folhas de cobre.

Neruda.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

LOUCURA

Este é o tempo
que não passa!!!


(Ou passa depressa demais ?)

Uma coisa sei;
Ontem fui branca, hoje sou preta.

(Ou serei de todas as cores?)

Sinto-me Outubro, Novembro ou Dezembro,
mas o que sou mesmo é todo o ano esperando Janeiro!

Não tenho já mais unhas para roer
Nem mais cigarros para fumar,
mas e daí? Qual é o mal?

Tenho a certeza que a espera é pouca,
mais um passinho e ficarei louca!!!!

Teresa.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

ESPERANDO

Recuei no tempo e contei-o...

Guardei meus dias e noites
Num campo regado com saudades
e dormi nas suas sombras.

Mais tarde subi às arvores entardecidas de esperas,
Semei versos silvestre num vaso
e no quintal plantei um pé de palavras.



Cansada sentei-me à porta
e desenhei o nome do Universo.
Abrilhantei a lua, sacudi as estrelas
arrumei todo o céu à minha volta.

Por fim debrucei meu coração à janela,
durante tanto tempo que acabou marcado
pela dor da espera!

teresa

sábado, 10 de abril de 2010

DESPEDIDA

Entre mi amor y yo han de levantarse
Trescientas noches como trescientas paredes
y el mar será una magia entre nosotros.

No habrá sino recuerdos
Oh tardes merecidas por la pena,
noches esperanzadas de mirarte,
campos de mi camino, firmamento
que estoy viendo y perdiendo...
Definitiva como un mármol
entristecerá tu ausencia otras tardes


Jorge Luis Borges -1923

sexta-feira, 9 de abril de 2010

SILÊNCIOS

No começo da musica
cresce a nota!
Vibra exalta atormenta,
morre e pouco a pouco emudece...

Ouve-se ao fundo o silêncio,
agudo como espada...

Até que a musica recomeça,
volta e cresce e nos suspende...
Enquanto sobe
vão caindo recordações e esperanças vãs.

Gritamos, mas na garganta
o grito morre,
porque caímos no silêncio

Emudecemos.....


teresa.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

ESTE INFINITO AMOR

Este infinito amor que um ano faz
Que é maior do que o tempo e do que tudo
Este amor que é real, e que contudo,
eu já não cria que existisse mais.

Este amor que surgiu insuspeitado
e que dentro do drama fez-se em paz
este amor que é o túmulo onde jaz
Meu corpo para sempre sepultado.

Este amor meu é como um rio; um rio
Noturno, interminável e tardio
a delizar macio pelo ermo

E que em seu curso sideral me leva
Iluminado de paixão na treva
Para o espaço sem fim de um mar sem termo...

Vinícios de Moraes