sexta-feira, 5 de abril de 2013

Desfado.

Quer o destino que eu não creia no destino.
E o meu fado é não ter fado nenhum.
Cantá-lo bem sem sequer o ter sentido.
Senti-lo como ninguem, mas não ter sentido algum

Ai que tristeza, esta minha alegria.
Ai que alegria, esta tão grande tristeza.
Esperar que um dia eu não espere mais um dia
Por aquele que nunca vem e que aqui esteve presente.

Ai que saudade
Que eu tenho de ter saudade.
Saudade de ter alguem
Que aqui está e não existe.
Sentir-me triste
Só por me sentir tão bem
E alegre sentir-me bem
Só por eu andar tão triste.

Ai se eu pudesse não cantar "ai se eu pudesse"
E lamentar não ter mais nenhum lamento.
Talvez ouvisse o silencio que fizesse
Uma voz que fosse minha cantar alguem cá dentro.

Ai que desgraça esta sorte que me assiste.
Ai mas que sorte eu viver tão desgraçada.
Na incerteza que nada mais certo existe
Alem da grande incerteza de não estar certa de nada.


(Pedro da Silva Martins)

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