sexta-feira, 28 de maio de 2010

NÃO SEI COMO DIZER-TE....

Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
explendida e vasta.

Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado um campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim te procuram.

Quando as folhas da melancolia arrefecem com os astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
Tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- e então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silencio.

Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que as vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.

Durante a Primavera inteira aprendo
os trevos, a àgua sobrenatural, o leve e o abstracto
correr do espaço-
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer
coisa extraordinária.

Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
as crtianças, a àgua, o deus, o leite, a mãe,
o amor
que te procuram.

Herberto Helder

Sem comentários:

Enviar um comentário