sexta-feira, 16 de abril de 2010

O POÇO

Aqui eu te amo.
Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.
Fosforece a lua sobre as aguas errantes.
Andam dias iguais a perseguir-me.
Descinge-se a nevoa em dançantes figuras.
Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.
Às vezes uma vela, altas altas, estrelas.
Ou a cruz negra de um barco
Só.
Às vezes amanheço e minha alma está humida.
Soa, ressoa o mar distante.
Isto é um porto.
Aqui eu te amo.
Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.
Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.
Às vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,
que correm pelo mar rumo a onde não chegam.
Já me creio esquecido como estas velhas âncoras.
São mais tristes os portos ao atracar da tarde.
Cansa-se minha vida inutilmente faminta...
Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.
Meu tédio mede forças com os lentos crepusculos.
Mas a noite enche e começa a cantar-me.
A lua faz girar sua arruela de sonho.
Olham-me com teus olhos as estrelas maiores .
E como eu te amo, os pinheiros no vento
Querem cantar o teu nome, com as suas folhas de cobre.

Neruda.

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