quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

SOMBRA

A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.

Sombra de mim que recebe luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.

Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e que não me persigo,
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim.

Almada Negreiros.

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