Às vezes em dias de luz perfeita e exacta,
em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
pergunto a mim mesmo devagar
porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas?
Uma flôr acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: Têm cor e forma
e existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe.
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
perante as coisas,
perante as coisas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!
Alberto Caeiro.
domingo, 2 de maio de 2010
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