devo-te tanto como um pássaro
deve o seu voo à lavada
planície do céu.
Devo-te a forma
novíssima de olhar
teu corpo onde às vezes
desce o pudor o silencio
de uma palpebra mais nada...
Devo-te o ritmo
de peixe na palavra,
a genesíaca, doce
violencia dos sentidos;
esta tinta de sol
sobre o papel de silencio
das coisas - estes versos
doces, curtos, de abelhas
transportando o polén
levíssimo do dia;
estas formigas na sombra
da propria pressa entrando
todas em fila no tempo,
uma pergunta frágil
nas antenas, um recado invisível, o peso
que as deixa ser e esquece;
e a tua voz que compunha
uma casa, uma rosa
a toda a volta - ó meu amor vieste
rasgar um sol das minhas mãos!
Vitor Matos e Sá (O silencio e o tempo)
sábado, 27 de outubro de 2012
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