Um pouco mais de sol-eu era brasa,
Um pouco mais de azul-eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe d'asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém.
Assombro ou paz? Em vão...Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho-ó dor-quasi vivido...
Quasi o amor, quasi o tiunfo e a chama,
Quasi o principio e o fim-quasi a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo...e tudo errou...
-Ai a dor de ser-quasi,dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei-me em mim,
Asas que se enlaçou mas não voou...
Momentos d'alma que desbaratei...
Templos onde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar
Ansias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio encontro só indicios...
Ogivas para o sol-vejo-as cerradas;
E mãos de heroi, sem fé acobardadas,
Puseram grades sobre os precipicios...
Num impeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi.
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Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul- eu era além
Para atingir, faltou-me um golpe d'asa...
Se ao menos eu permanecesse aquem.
Mário de Sá Carneiro in «Dispersão»
segunda-feira, 25 de julho de 2011
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