Recorto a minha sombra na parede
Dou-lhe corda, calor e movimento,
duas demãos de cor e sofrimento,
quanto baste de fome, o som, a sede.
Fico de parte a vê-la repetir
os gestos e palavras que me são,
figura desdobrada e confusão
de verdade vestida de mentir.
Sobre a vida dos outros se projecta
este jogo de duas dimensões
em que nada se aprova com razões
tal um arco puxado sem a seta.
Outra vida virá que me absolva
da meia humanidade que perdura
nesta sombra privada de espessura
na espessura sem forma que a resolva.
José Saramago.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário