sexta-feira, 24 de maio de 2013

Pergunta-me

 
 
T.J.
 
Pergunta-me
Se ainda és o meu fogo
Se acendes ainda
O minuto de cinza
Se despertas
A ave magoada
Que se queda
Na arvore do meu sangue.
 
Pergunta-me
Se o vento não traz nada
Se o vento tudo arrasta
Se na quietude do lago
Repousaram, a fúria
 o tropel de mil cavalos
 
Pergunta-me
Se te voltei a encontrar
De todas as vezes que me detive
Junt6 das pontes enevoadas
E se eras tu
Quem eu via
Na infinita dispersão do meu ser
 
Se eras tu
Que reunias pedaços do meu poema
Reconstruindo
A folha rasgada
Na minha mão descrente.
Qualquer coisa
 
Pergunta-me qualquer coisa
Uma tolice
Um mistério indecifrável
Simplesmente
Para que eu saiba
Que queres ainda saber
Para que mesmo sem te responder
Saibas o que te quero dizer.

Mia Couto (Raiz do Orvalho e outro poemas)


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