sábado, 25 de maio de 2013
Fui Sabendo de Mim
Fui sabendo de mim
Por aquilo que perdia
Pedaços que saíram de mim
Com o mistério de serem poucos
E valerem só quando os perdi
Fui ficando
Por umbrais
Aquém do passo
Que nunca ousei
Eu vi
A arvore morta
E soube que mentia
Mia Couto (Raiz de Orvalho e outros Poemas)
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Pergunta-me
T.J.
Pergunta-me
Se ainda és o meu fogo
Se acendes ainda
O minuto de cinza
Se despertas
A ave magoada
Que se queda
Na arvore do meu sangue.
Pergunta-me
Se o vento não traz nada
Se o vento tudo arrasta
Se na quietude do lago
Repousaram, a fúria
o tropel de mil cavalos
Pergunta-me
Se te voltei a encontrar
De todas as vezes que me detive
Junt6 das pontes enevoadas
E se eras tu
Quem eu via
Na infinita dispersão do meu ser
Se eras tu
Que reunias pedaços do meu poema
Reconstruindo
A folha rasgada
Na minha mão descrente.
Qualquer coisa
Pergunta-me qualquer coisa
Uma tolice
Um mistério indecifrável
Simplesmente
Para que eu saiba
Que queres ainda saber
Para que mesmo sem te responder
Saibas o que te quero dizer.
Mia Couto (Raiz do Orvalho e outro poemas)
Para que mesmo sem te responder
Saibas o que te quero dizer.
Mia Couto (Raiz do Orvalho e outro poemas)
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Morrer de Amor
Morrer de Amor
o pé da tua boca
Desfalecer
À pele
Do sorriso
Sufocar
De prazer
Com o teu corpo
Trocar tudo por ti
Se for preciso
Maria Teresa Horta.
terça-feira, 21 de maio de 2013
Armadilhado
T.J.
Quero a paixão ardente
e árdua.Incendiando o corpo.
Com o seu sobressalto alado.
A vergasta cruel
que a sedução conduz
até ao desejo armadilhado
Maria Teresa Horta.
domingo, 12 de maio de 2013
O Amor
T.J.
Estou a amar-te como o frio
Corta os lábios
A arrancar a raíz
Ao mais diminuto dos rios.
A inundar-te de facas,
De saliva esperma lume,
Estou a rodear de agulhas
A boca mais vulnerável
A marcar sobre os teus flancos
O itinerário da espuma
Assim é o amor:
Mortal e navegável.
Eugénio de Andrade (Obscuro Domínio)
sábado, 11 de maio de 2013
De Um Amor Morto
T.J.
De um amor morto fica
Um pesado tempo quotidiano
Onde os gestos se esbarram
Ao longo do ano
De um amor morto não fica
Nenhuma memória
O passado se rende
O presente o devora
E os navios do tempo
Agudos e lentos
O levam embora
Pois um amor morto não deixa
Em nós seu retrato
De infinita demora
É apenas um facto
Que a eternidade ignora
Sophia de Mello Breyner (in Geografia)
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