Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe
(se é esse outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpétuamente me ponta
traições de alma a um caracter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me multiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma
e está em todas.
Como a panteísta se sente arvore (?) e até flor,
eu sinto-me varios seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus, sintetizados num eu postiço.
Fernando Pessoa.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário